Era uma vez um autarca que sonhou em perpetuar-se no poder, propondo aos eleitores elevar a sua vila a cidade. Foi a votos e venceu, uma e duas vezes. Mas como se esse desiderato não conseguisse, toca a esventrar ruas e caminhos, a fazer novos passeios e instalar novos candeeiros, para dizer aos eleitores que agora é que era e que depois de tudo pronto, a categoria de cidade cairia do céu aos trambulhões e numa manhã de sol.
O autarca prepara-se para continuar no poleiro. Para tal, repescou a teoria económica que deu o que deu, e de que estamos a sofrer consequências: na concentração está a solução do crescimento. E o povo que vive naquele território de fronteira, vai acreditando e pedindo que seja verdade o que o edil apregoa, com uma convicção pacóvia que até mete impressão.
Os seus pares dos concelhos vizinhos, que deviam ter uma noção estratégica do que deve ser o desenvolvimento de uma ilha, até discordam do parceiro laranja, mas porque o poder vale mais que a inteligência, fazem de conta que o tal edil já passou a fronteira do razoável e olham para o lado como se não fosse nada com eles, nem com o partido que os elegeu.
É que - dizem os entendidos - não é o título de cidade que traz mais valias. As novas centralidades estão condenadas porque a concentração demográfica é uma carga de trabalhos para o ambiente (nem água há...), para os equipamentos, para as relações comerciais, laborais e sociais e para a própria segurança das populações.
E depois, não é com uns escassos dois milhares de pessoas, meia dúzia de lojas, pouca indústria e meia dúzia de bancos, que se conquista um título que, um dia, um candidato a edil, sonhou para aliciar os seus eleitores.
Promessas há muitas e essa, tarde ou nunca chegará!...