A Câmara Municipal, através do escriba-mor da côrte, tem-se multiplicado em prosápia laudatória na imprensa local, publicitando o dito e o feito.
Tamanha ousadia e petulância foi ao ponto de comparar a abertura do concurso de ampliação do Museu dos Baleeiros, com o arranjo do passeio em frente, com a conclusão do Forte de Santa Catarina, com a Piscina de Santa Cruz, a recuperação em curso do edifício da Fábrica da Baleia, o novo Campo de futebol das Lajes, “mais tratamento de águas, mais recolha selectiva de lixos, mais caminhos, zonas balneares, etc”, concluindo: “e nós continuamos à espera da ampliação do Museu.
Tamanha presunção vem de quem pretende passar a imagem de que este é um concelho-oásis, do tipo bóra-bóra, em que a qualidade de vida dos cidadãos já atingiu patamares de excelência nos domínios económico, social e cultural.
Pretender vender a ideia de que a água que consumimos é, toda ela, de excelente qualidade e desconhecer que há centenas de pessoas que vão à Silveira e ao mistério de São João encher garrafões de água para consumirem (como se fazia, antigamente, com a água da fonte da Silveira), ou lavar as suas viaturas, enquanto noutras localidades se bebe água do tanque...
Ignorar que não se executou, como prevê o Plano para 2006, a “requalificação de arranjos urbanísticos no Bairro Fernão Álvares Evangelho”, nem se melhorou as zonas balneares da Fonte, do Portinho e da Maré;
Que do novo parque infantil, e do novo mercado municipal nem há primeira nem segunda pedra lançadas...;
Esquecer que os caminhos municipais, tal como as anteriores obras previstas no Plano de 2006, estão degradados e afectam veículos e proprietários... com tudo isto e muito mais que no concelho está por fazer a um trimestre do fim do ano!...deve ser confrontada a Câmara.
Não é possível que esses projectos sejam iniciados, dados os prazos legais de lançamento, exame e adjudicação das obras.
Quer isto dizer que muito do DITO e PROMETIDO, NÃO SERÁ FEITO.
Quanto à fábrica da Baleia, não faltava mais nada senão o Município, com uma veleidade parola, pretender retirar importância ao Museu dos Baleeiros – o mais visitado dos Açores. Apenas para relevar a Fábrica da Baleia, designada por centro de artes e de ciências do mar, consideranda no Plano “o ponto central da rede de equipamentos do nosso concelho.”
É uma visão míope, uma visão paroquial, que não se compagina com a abertura de espírito que esses projectos podem proporcionar, desde que os responsáveis tenham uma visão universalista e não sectária ou elitista da cultura.
Reconstruir a antiga Fábrica da SIBIL foi o mais fácil. Resta saber – e temo que não – se a Câmara tem a noção e sabe o quê e como instalar no seu interior o núcleo científico e museológico que tanto apregoa. Será que o reitor da universidade já respondeu afirmativamente ao pedido de apoio público mas deslocalizado, da Presidente em cerimónia oficial? Ou a intenção ainda não chegou ao departamento competente?
Estas é que são questões que os responsáveis municipais deveriam abordar e esclarecer nos bem pagos espaços autárquicos dos jornais. E deixar-se de promover fitas como se as Câmaras fossem empresárias de cinema.
Há, de facto, actores secundários, que pretendem ocupar o papel da actriz principal, mas isso só acontece porque uns e outra são tão maus, tão maus, que dão cabo do argumento e da realização do filme.